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DE COSTAS
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DE COSTAS
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De
costas. Estava sentado ao balcão da pastelaria de costas para toda a gente.
Quando
entrara ouvira o esmorecer das conversas até ao quase absoluto silêncio.
Sentia
os olhares dos presentes cravados nas suas costas, como se ele não pertencesse
àquele lugar. As pessoas clientes sentiam-se incomodadas com a presença dele. As
pessoas empregados da pastelaria "apreciavam" o espectáculo e esperavam
pelo desfecho. Também ele se estava a sentir incomodado. O coração batia forte
e devagar, latejando nas têmporas.
De
repente, um toque no ombro esquerdo
-Olá,
viva, como está? Então lá foi, não é? É a vida! Tem de ter paciência... e força!
E
ele a olhar fingindo não saber quem era que se lhe dirigia
-Bem,
gostei de o ver. Até qualquer dia. Dê cá um abraço... e um beijo, já agora
E
ao seu ouvido, baixinho
-Era
muito amiga dela, sabe? Muito amiga. Desculpe-me não ter ido, mas só soube
depois. Ninguém me disse.
Ninguém
lhe disse! Claro que ninguém lhe disse, nem a ela nem às outras, fora ordem dele,
que não queria que por lá aparecessem. As amigas não eram aquilo.
E
ele lá ficou mudo e inerte a receber o amplexo, e o beijo húmido, e o cheiro
muito leve a naftalina. De braços caídos, indiferente, mantendo o olhar
distante e inquiridor.
-Dê
um beijo a todos lá em casa.
E
lá se foi, de cabeça baixa, fungando como se estivesse comovida, andar bamboleante
e um pouco trémulo, que a idade não perdoa.
Não
lhe apetecia nada falar com aquela gente, não, com gente daquela não queria mesmo,
incomodavam-no. Desde a doença, anos atrás, que se tinham esquecido por
completo da amiga de folias de muitos anos. Para quê lembrarem-se agora?
Outros
toques nos ombros, novas palavras ocas, sem sentido, novo olhar vazio, da parte
dele. Propositado, provocatório. Mais uns quantos abraços, e sempre o mesmo
silêncio da sua boca. Durante todo este teatro, não disse uma só palavra. Até
que se cansou. Levantou-se, olhou à volta enfrentando os presentes, olhando-os
nos olhos, e dirigiu-se para a porta, primeiro com o cenho ferrado, depois,
consoante se aproximava da saída, com um ar cada vez mais aliviado.
De
novo aqueles olhares cravados nas suas costas. Sentia-os perfeitamente, mas já
não o incomodavam. Tinha cumprido o seu propósito.
Após
ter cruzado a porta, o ruído das conversas fúteis e vazias eivadas de
bilhardices terá regressado como se espera. A vida na pastelaria, continuava.
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