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COMO SE FORA UM CONTO, é o título de pequenos contos que ao longo do tempo fui escrevendo.
Na sua maioria foram já publicados em jornais e em blogues.
Alguns são inéditos.

domingo, 24 de julho de 2011

UM "MENINICO" COMO OUTRO QUALQUER


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COMO SE FORA UM CONTO
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No segundo ano da segunda metade do século passado, em pleno estio, o meu avô Júlio recebeu em sua casa o sétimo neto dos nove que acabaria por ter. O pimpolho que mais tarde acabaria por vir a ser este vosso escriba, recebeu loas de toda a família e de mais quem fosse. Minha avó, mulher para quem os filhos e os netos eram tão-somente os melhores do mundo e arredores, fez uma propaganda enorme no que à beleza do menino dizia respeito. Afinal era o primeiro, e acabaria por ser o único a poder continuar o nome da família.
Naquela altura, muito embora já sem a força de outros tempos, meu avô era ainda uma das figuras importantes da vila. O terceiro da hierarquia lá do sítio.
Solicitador encartado, fazia o papel de advogado em muitas situações, já que por aquelas bandas não havia profissionais daquele ofício. Tinha escritório em cinco comarcas em redor, e diziam as más-línguas, que casa montada em cada uma delas. Afilhados eram mais que muitos, e todos traziam consigo o nome de meu avô. Havia até quem dissesse que o apadrinhamento os fazia serem muito parecidos com ele. Tinha sido fundador dos Bombeiros da Vila e o seu primeiro Presidente, e era muito bem considerado por toda a gente. Amigo de bem comer e conhecido também pela sua bondade e largueza de mãos, cedo delapidou toda a fortuna amealhada ao longo de uma vida de trabalho, por via dos pedidos que constantemente lhe faziam, que sem excepção sempre satisfazia, fossem eles de dinheiro, de terras, de árvores ou de animais.