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COMO SE FORA UM CONTO
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Suavemente assim o fez.
Quase não a senti. A minha mamã está tão levezinha, tão sem ser, tão quase
nada.
Encosto a minha mão, espalmada, na sua cara, sobre a face e a orelha esquerda
"que bom! - disse"
Que bom, pensei
enquanto a cabeça da minha mamã se inclinava para o lado da minha mão e ma
prendia de encontro ao seu ombro. Já há muito tempo que me não fazia isso
"que bom" - disse
eu"
E beijei-a na testa, e
encostei a minha testa à dela, e fiz movimentos de carinho com os dedos da
minha mão direita. A minha mamã fez mais força com a cabeça, prendendo ainda
mais a minha mão de encontro a ela, e sorriu.
Há muito tempo que a
não via sorrir, ou falar, ou sequer reagir a um qualquer estímulo que eu lhe
desse. A doença tinha-a comido e da minha mamã pouco restava. Qualquer dia nada
sobraria mesmo, só a lembrança e a saudade.
"sente-se aqui no
meu colo, mamã"
E a minha mamã
sentou-se, quase sem que eu a sentisse de tão levezinha que estava. E ali
ficamos os dois, um bom bocado, a apreciar o calor que transmitíamos um ao
outro.
E eu sorrindo
"até amanhã,
mamã"
e ela também com um
leve sorriso nos lábios
"até amanhã, meu
filho"
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